segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Alvorecer de um novo Xamã

"A vida é energia!
Espelhada pelo Grande Espírito aos Quatro Ventos, tomou as mais variadas formas.
Todos nós vivemos das energias uns dos outros, em trocas ou apropriações. Todos os seres alimentam-se da energia de outros seres. A vida para manter-se viva precisa da morte! E a morte é apenas um veículo nessa troca de energias. Porquanto a morte é companheira da vida e, as duas, irmanadas, lutam contra a não vida.
Será possível conciliarmos uma mente especulativa com um coração xamã?
Esta é a grande esperança: recuperar a beleza poética de uma fé que possa ser a grande ponte para interligar esse abismo.
O alvorecer de um novo xamã. Convivendo entre as descobertas da internet, com sua mente aqui calculista, aguçando seu sentido felino da busca até a última resposta! O seu coração entrementes, refugiando-se lá, antes da linha divisória, nas pradarias, nos rios e lagos, nas mata, sonhando com as montanhas e adorando o Sol...
Olho para os teus olhos e vejo nele inquietações. Sei que são difíceis as transformações, porque estás cercado de artificialidade. Como retornar uma vida voltada para energias naturais? Será negativo tentar uma mudança idealizada. Ser xamã não é mudar-se para o campo abandonando sua forma atual de ser. Se desejas viver o xamanismo, não sonhe com coisas impossíveis, postergando para o nunca uma atitude que pode tomar a partir de hoje. Para se ser Xamã, terá que construir uma nova postura perante a existência, com humildade; a vida não é uma mera relação social entre seres humanos. É uma soma na universalidade de todos os seres.
Afinal não somos sonhadores, como muitos afirmam; somos sim realizadores de sonhos; aqueles que são capazes de falar com pássaros, e outros animais numa aldeia de cimento. Que convivendo com pessoas artificiais, vulgares em seus anseios utilitários, interesseiras frente ao consumismo global, possuem uma visão de unidade com a essência e que são capazes de se emocionar com as belezas dela. Belezas que estão presentes em todas expressões da natureza."


Mário Scherer
Extraído do livro “Canção do Vento” de Mário Scherer.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

BELEZA INDÍGENA

A Lenda de Aruanã - Karajá

Aruanã, filho de Aruá e primo dos Lendários Arumanás, vivia solitário e triste dentro das fundas águas do imenso Araguaia.
Ele era um eterno enamorado da vida terrestre, particularmente da vida do homem.
Um dia, a poderosa Jururá-Açú, deusa das chuvas, do orvalho e irmã de Iara, impelida por sagrado desejo, chamou em meio das águas, os angás, os arumaçás e seus filhos, para irem honrar o poderoso Boto, senhor das águas, na funda Loca onde habitava o deus marinho. Todos os seres das águas do volumoso e imenso Araguaia, correram para o fundo do rio, a fim de erguerem suaves preces entre cantos e louvores. Somente Aruanã não conseguiu ir com a turba e exclamou:
- Pobre de mim, nas águas nasci, nas águas me criei, contudo já não tenho felicidade!                        
Assim falou o valente Aruanã e colocando a cabeça fora da água, continuou:
 
- Ó pai Tupã, se a ti próprio te apraz, a felicidade de um pobre mortal, se propício a mim, faze-me um ser humano e, se algum dia eu tenho que morrer, não me deixe nestas águas, tira-me delas.

Tanto suplicou Aruanã que sua prece acabou sendo ouvida. No aprazível e sagrado monte Ibiapaba, Tupã observou com seus olhos divinos e compadecidos o que estava se passando nas margens do rio Araguaia.
  
- Vai tu Polo e satisfaz os desejos de Aruanã.

Obedecendo as ordens do supremo, o deus do vento, aproximou-se do local onde estava o formoso peixe e tomando-o levou-o para o verde campo.

- És tu, um valente guerreiro, Tupã mais do que dele esperavas!
Assim disse Polo, o deus dos ventos e desapareceu.
Ó maravilha! Ali estava um homem! Então vieram, por ordem do criador, as belas e divinas Parajás deusas da honra, do bem e da justiça e assim falaram:

- Aruanã, peixe foste tu; Aruanãs hás de chamar-te daqui para o futuro.

E, foi deste modo que nasceram os valentes Aruanãs e habitaram as margens do lendário rio Juruá. Era uma tribo poderosa, laboriosa, resistente e reconhecida.
Deles vieram mais tarde os Aruaques, que foram habitar nas Antilhas, os Aruãs que ficaram na ilha de Marajó; os Arucuinas, que habitaram nas fronteiras do Brasil com a lendária Guiana Francesa; os Arumás, que foram viver nos altos do rio Parú, os conservadores e canoros Karajás, que foram habitar as margens do Araguaia, onde todos os anos organizam o sagrado Ritual do Aruanã, com suaves danças e divinos cantos, em homenagem ao inesquecível Aruanã, pai da nação Karajá.
 
O mundo Karajá é habitado por um grande número de personagens mais ou menos fantásticos, os aõni e outros seres que os Karajá distinguem como habitantes do céu (biuludu) da terra (suuludu) e da água (beeludu). Grande parte desses seres, principalmente os celestes, semelhantes aos pássaros que voam ou diversos Ijasó, são “pessoal” do Xiburè, imahãdu, ou “criação dele”, ou seja, são  seres animados por Xiburé. São formas diferentes que  Xiburè assume; mas todas elas são Xiburè.
Grande parte ou a totalidade dos animais valorizados pelos Karajá e que existem aqui na terra são pertencentes, ou parte dos ijasò que vivem nas profundezas.