Há muitas primaveras, no tempo em que ainda havia muitos Búfalos e os únicos inimigos dos Sioux eram os Crow, uma pequena criança mamava no peito de sua mãe. Ele era muito pequeno, mas observava o acampamento e ouvia os tambores de seus ancestrais falando ao povo. Ele entendia tudo o que os tambores diziam, e ouvia as histórias que eles lhes contavam. Como era muito pequeno, as histórias lhe tranquilizavam sempre que sua mãe estava ocupada tingindo tipis ou preparando penicam (pasta de carne com frutas secas).
Dez primaveras se passaram e ele tornou-se um rapaz cheio de responsabilidades. Naquela época seu nome era Ouve os Tambores, porque a xamã que havia assistido seu nascimento notou a fascinação que ele tinha pela batida dos tambores. Seu pai havia sido pisoteado por um búfalo ao salvar a vida de um jovem descuidado que fazia sua primeira caçada. Assim, ele tornou-se parcialmente responsável pela caça de pequenos animais para sua família. Um dia, ao voltar para casa com um esquilo e um coelho, levou-os para sua mãe e foi saudados pelo Contador de Histórias Cara Amarela. Cara Amarela era um Cabelo Trançado que havia servido ao seu povo desde o tempo em que o avô de Ouve os Tambores era pequeno.
Cara Amarela perguntou a ele, o que havia aprendido na caçada, se havia escutado as criaturas e conversado com elas. Ouve os Tambores se surpreendeu com a pergunta, pois não havia contado a ninguém que seguia as batidas do seu coração, como se fossem música dos tambores, até o local em que os animais lhe indicavam, dizendo que estavam dispostos a se sacrificar para servirem de alimento a sua família.
Até a hora em que o Avô Sol se punha ao oeste, ficou sentado com Mão Amarela contando as histórias maravilhosas que havia aprendido com suas amigas, as criaturas. Contou-lhe como levantava a mão e ordenava a seu coração que tamborilasse How Kola! (Salve Amigo!) para seus irmãos e irmãs da pradaria. O How Kola que seu coração tamborilava atraía as criaturas até o local onde ele se encontrava, e eles ficavam felizes em partilhar com Ouve os Tambores sua Histórias de Sabedoria. Assim aconteceu que ele terminou sendo escolhido para receber o treinamento do Contador de Histórias Cara Amarela, e acabou tornando-se um Cabelo Trançado. Seu nome foi mudado para Mão Erguida porque ele costumava saudar todas as criaturas com a mão aberta, levantada em sinal de amizade.
Durante cinco primaveras Mão Erguida aprendeu com Cara Amarela, a ser um Cabelo Trançado. Cara Amarela ensinou-lhe que eles são os Guardiães de sua história e das Sagradas Tradições. Cabe a eles viajar entre os grupos de diversas nações, levando notícias dos acontecimentos que afetavam a todos. Os Cabelos Trançados costumavam contar os fatos que ocorriam em outros acampamentos, ao redor da fogueira comunitária, depois do jantar. Eles falavam de atos heróicos, de um Sonho de Cura que profetizasse futuros acontecimentos, de História de Sabedoria que conservavam viva a Tradição, além de trazer as últimas notícias acerca de nascimentos e de mortes nas tribos.
Na terceira primavera que Cara Amarela passava os ensinamentos a Mão Erquida, eles foram realizar uma Busca de Visão para o jovem Cabelo Trançado. No terceiro dia de busca, surgiu um Ancião que transmitiu a seguinte mensagem ao jovem: - Os Cabelos Trançados de todas as tribos e nações constroem uma ponte entre os ensinamentos tradicionais e o momento presente. As crianças de todas as gerações aprendem as lições tradicionais que os Cabelos Trançados ensinam e aplicam estas história às suas próprias vidas. O modo de pensar do nosso povo é diferente dos de outros povos. Nós não costumamos revelar qual é a verdadeira mensagem contida em nossas Histórias de Sabedoria. Preferimos deixar que as pessoas utilizem os seus dons individuais de intuição e observação para perceber o significado real dessas histórias.
Acabada a jornada de Busca da Visão, Mão Erguida contou para Cara Amarela sobre a mensagem que lhe foi dada pelo Ancião. Após a narrativa, Cara Amarela deu uma baforada em seu cachimbo e falou: - Nossos ensinamentos são transmitidos de forma que cada um possa aprender conforme seu próprio ritmo e seu próprio modo de ser, dando liberdade a que cada pessoa aplique ou não estes ensinamentos à sua vida. Cada história possui diversos significados e relaciona-se de formas diferentes à vida de cada pessoa. Os mesmos acontecimentos dentro de uma história também podem ser repetidos inúmeras vezes, de maneira diferente, para que cada ouvinte possa perceber de que modo aquela história se adapta melhor ao seu próprio momento de vida.
Em sua última primavera com Mão Erguida, Cara Amarela ensinou ao jovem, que ele devia aprender a respeitar a liberdade de pensamento de todos aqueles que iriam em busca de sua Sabedoria. Desta maneira as crianças aprendiam a valorizar a própria inteligência e sentiam que eram membros respeitados de sua tribo. O Cabelo Trançado considerava cada criança como uma pessoa igual a ele, e colocava-se ao nível dela.
Antes a partida de Cara Amarela para a Patagônia, Mão Erguida foi admitido no Conselho de Anciões na tenra idade de dezesseis primaveras. Ele a partir desse dia não precisava participar de batalhas, mas deveria observar tudo e recordar-se mais tarde, passo a passo, o desenrolar da luta. Sendo um xamã historiador, o Cabelo Trançado era convocado a contar os fatos passados com total precisão para que estes acontecimentos ajudassem a solucionar os presentes problemas. Ensinava a forma de viver de maneira equilibrada através das ações dos personagens das História de Sabedoria. Uma história contada de maneira adequada, podia acabar com as discussões, mudar o curso de uma vida, insuflar novo ânimo em épocas difíceis ou encorajar os jovens a assumir novas responsabilidades na vida.
Acabada sua admissão no Conselho de Anciões, Mão Erguida entrou no tipi de seus pais acompanhado de Cara Amarela, o velho Contador de História pediu para o jovem sentar e começou a trançar uma pequena mecha no novo Cabelo Trançado. Após alguns minutos, eles saíram do tipi e o povo pode ver que Mão Erguida trazia uma pequena mecha com tranças e nós, que lhes caía pelo meio da testa que tinha cunhada um pequeno cristal, que o caracterizava com professor e historiador da tribo. Despediram-se, e Cara Amarela seguiu seu destino em direção a Patagônia, enquanto Mão Erguida partia para contar história entre os povos das pradarias.
Passado muitas primaveras, Mão Erguida continuou visitando as tribos das pradarias. Todos os verões, ele partilhava o seu conhecimento com os filhos dos Oglalas reunidos para o Pow-Wow antes da Dança do Sol. Numa manhã de verão, Mão Erguida chegou para o Pow-Wow cavalgando seu cavalo malhado. Ao verem Mão Erguida se aproximar com seu garboso companheiro, as crianças correram até os limites do acampamento. Mão Erguida tinha duas penas de águias amarrada em seu cacho de escalpo, e a mecha de Cabelo Trançado lhe caia pela testa.
- Cabelo Trançado chegou! - gritavam as crianças enquanto corriam para saudá-lo. Com os olhos cheios de admiração, as crianças observavam Mão Erguida entrar no acampamento. Ele continuava montado em seu cavalo, ereto e orgulhoso, olhando sempre em frente, com seus olhos muito negros fixados no centro do acampamento. Agora, Mão Erguida era o mais velho Cabelo Trançado da Nação Sioux. Nínguém sabia quantas primaveras ele carregava nas costas. Até o chefe que chegou para saudá-lo, lembrava-se que Mão Erguida já era um Ancião na época em que ele ainda era uma criança.
Mão Erguida desmontou bem no centro do acampamento e foi saudado com muito respeito e calorosos How Kolas. Convocou-se o Conselho de Chefes e Mão Erguida foi fumar o Cachimbo, foi trazida a comida e começou-se a partilhar as últimas novidades entre os membros da Tenda de Cura.
Quando a noite caiu, e a última luz enviada pelos raios do Avô Sol tocaram a grama que cobria os prados, começou a celebração. A volta de Mão Erguida a este grupo de Oglala era um motivo de muita alegria. As expectativas eram enormes e todos os olhos se voltaram para o Cabelo Trançado quando ele começou a partilhar as notícias de nascimentos e mortes, os golpes que foram contados, e das decisões dos diversos Conselhos de outras regiões, tomadas durante o último inverno. Após terminar o relatório, Mão Erguida contou uma de suas Histórias de Sabedoria.
Este foi o último verão que Mão Erguida passou entre os povos das pradarias. Nunca mais ele foi visto, apesar de alguns caçadores jurarem que viram o Cabelo Trançado no alto de uma montanha rodeado de animais com a mão aberta levantada e falando:
- How Kola!
lenda Sioux contada pelos xamãs do Clã Lobos do Cerrado
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