sexta-feira, 1 de abril de 2011

EXPLICANDO O XAMANISMO URBANO


*Trechos do Artigo de Cyro Leãoo publicado na Revista Diálogo - revista de ensino religioso.
O xamanismo é a mais antiga forma da conexão do homem com o Sagrado. Nos primórdios da humanidade, o homem descobriu que tinha o poder de “despertar” do estado de inconsciência, tal qual vive um bebe recém-nascido. Detinham o poder de sair do corpo e entrar no mundo da alma. Entravam em contato com o Arquétipo do Divino: a Deusa, o Deus e a Tudo que é. E a partir deste momento começa o despertar da consciência no homem. Passaram a ter livre acesso a Deusa e a receber os conhecimentos necessários para seu povo. Surge assim o xamã mítico que passou a ser o primeiro curador na sua comunidade.
Na medida que as doenças apareciam, com a intervenção da Grande Deusa, ele recebia o conhecimento da cura. Surge o culto a Grande Deusa, a Mãe Terra, a provedora. Os rituais sagrados se iniciam e são celebrados pelo xamã, o primeiro religioso. É uma era em que o homem arcaico acreditava que a Lua era detentora do poder da vida e da morte, e que o sangue menstrual era o responsável pela gravidez e quando se esvaia, era o detentor da morte. Com o passar do tempo passaram a fazer sacrifícios de sangue para fertilizar a terra. Era a época do Matriarcado.
Milênios se passam. A era das Deusas se vai e chega o Patriarcado. Segundo a Lenda Siberiana, houve um caos total na terra e o ser supremo envia a Águia para colocar um pouco de ordem, A Águia por ser um pássaro, não é compreendida pelos homens. A Águia (símbolo da consciência) encontra uma mulher (identificada à liberdade) sob a copa de uma árvore, copula com ela e daí nasce o primeiro xamã.
A palavra xamã deriva do dialeto tungue - saman, do sânscrito - sramana e do pali - samana, significa “o homem inspirado pelos espíritos”.
Apesar do xamanismo ter sido um acontecimento do re-ligare junto ao Arquétipo do Divino, não é uma religião e sim uma filosofia de vida, que ressurge neste século. Vejamos como isso se manifesta:
Mircea Eliade, em sua obra “o Xamanismo e as técnicas Arcaicas de Êxtase”, evidenciou a perspectiva dos xamãs. Neste livro ele descreve ritos na Sibéria, América do Norte, América do Sul, Indonésia, Oceania, etc. De acordo com Mircea Eliade, os xamãs são eleitos e por isso tem acesso a uma região do sagrado, inacessível a outros membros da comunidade, e de algum modo cuida da alma desta. O Xamã e o grande especialista da alma humana. Só ele a vê, pois conhece sua forma e seu destino.
Xamãs Urbanos
Em 1960, inicia-se o movimento do retorno ao xamanismo, quando figuras como Carlos Castanheda e Michael Harner, ambos antropólogos, publicam as primeiras manifestações cientificas sobre o fenômeno. Michael Harner, é iniciado como xamã nos Andes Equatorianos por uma xamã jivaro. A partir deste momento ele começa sua caminhada de trazer ao mundo moderno os conhecimentos antigos e há tanto tempo arquivados em nossa memória. 
Passa a difundir seu trabalho nas universidades americanas, principalmente na Universidade de Columbia. Através de uma fita cassete, ele leva o som do tambor a seus alunos, que entram em estado alterado de consciência xamânica. É o despertar dos neo-xamãs, também chamados xamãs urbanos que praticam os conhecimentos nativos na selva de pedra.
E foi num ritual junto ao fogo, minha iniciação com Carminha Levy, que por sua vez foi iniciada por Michael Harner, reencontrei as minhas raízes, como num sonho mágico. Foi o filho pródigo voltando à casa paterna.
Temos algumas celebrações importantes:
Rituais da Lua Cheia, (reverência ao feminino e à intuição) e Rituais da Lua Nova, (alguns grupos fazem apenas com homens).
Os Ritos de Passagem são muito importantes nas tradições antigas e são ainda preservados entre os índios. Dos 13 aos 14 anos o menino deixa de ser criança e vira homem num ritual para o novo guerreiro e a menina vira mulher quando recebe seu primeiro sangue (a primeira menstruação).
A mudança das estações marca o término de um ciclo e o início de outro.
É a morte de uma estação e o renascimento de outra. O Equinócio da Primavera (23 de setembro) e o de Outono (21 de março) são regidos pelo sol e neste período, as horas do dia são iguais às horas da noite. No Solstício de Inverno (21 de junho) temos a noite mais longa do ano e no Solstício de Verão o dia mais longo do ano.
Durante o meu caminho de buscador, ao ter contato com o xamanismo, algumas indagações brotaram em mim por ter sido criado na doutrina católica. Após um tempo percebi que o fato de ser católico não conflita com os conhecimentos xamânicos, pois a forma mais ampla desta filosofia é a prática do caminho do coração, a mesma preconizada por Jesus Cristo.
A conduta ética dos neo-xamãs ou xamãs urbanos é dada por 5 leis fundamentais de valores morais que seguem a ética do coração – o caminho do xamã nativo.
1ª Lei – O xamã pratica a Impecabilidade do guerreiro – (A Ética do Coração)
2ª Lei – O xamã pratica a Entrega (Confia num Ser Supremo que proverá suas necessidades)
3ª Lei - O xamã alcança o máximo de eficiência com o mínimo de esforço. (Está focado no que faz e pratica a disciplina do guerreiro)
4ª Lei - O xamã pratica o Desapego. (Está presente no aqui-agora deixando ir o passado e não se projetando ou vivendo no futuro).
5ª Lei - O xamã sai da causa e efeito e passa a viver a sincronicidade.
Com isso tudo, podemos ver que a filosofia é simples, mas depende de cada um querer seguir o seu caminho. Um deles é o do coração e é maravilhoso perceber, que todos nós temos esse herói interno que está a serviço da cura e da religiosidade (do re-ligare) e que pode ser acessado a qualquer tempo.
Axé na luz


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