quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MULHER BÚFALO E CACHIMBO SAGRADO



Dois jovens guerreiros Sioux caçavam nas pradarias do Minessota. subriram uma colina, para ver onde a caça seria mais produtiva, e perderam o fôlego ao ver uma moça surgir diante deles em uma nuvem. Ela vestia branco, e tinha uma sacola feita de couro de búfalo em uma das mãos.  Tinha em seus cabelos uma pena de águia. Ela disse ao jovens: 
"Não tenham medo. Eu venho para trazer paz. Mas, me digam, por que vocês estão tão longe da aldeia?"

A beleza dela incendiou o coração do mais velho com pensamentos impuros, e ele se calou. O mais jovem então respondeu: "Estamos caçando. Nossa aldeia não tem comida." Ela então deu alguns pacotes para os jovens, e disse: "leve estes pacotes para os chefes das sete fogueiras Sioux. Diga-lhes para se reunirem em conselho hoje em volta da fogueira e que esperem por mim."
Ao ouvir isso, o mais velho descontrolou-se do seu desejo e falou-lhe da sua vontade de possuí-la ali mesmo, sob o sol. Quando tentou agarrá-la, ela o envolveu carinhosamente na pele de búfalo. Uma nuvem de fumaça envolveu o corpo do homem, uma lágrima correu nos olhos da jovem mulher, e quando o pó baixou, no lugar do guerreiro havia um esqueleto coberto de vermes. Então, Ela disse ao mais moço:
"O homem que enxerga primeiro a beleza exterior da mulher, é um cego, e nunca verá a beleza divina que ela têm. Mas o homem que olha primeiro para o Espírito e a sua verdade, este sim, verá o grande espírito que ela têm e se então ela quiser deitar-se com ele, compartilharão juntos um prazer mais pleno, e só então, sagrado. Você, quando me olhou, não ficou cego com a minha beleza, mas seu primeiro pensamento foi de tentar descobrir quem eu era. E eu te digo que você também terá o que deseja."
 O jovem criou coragem, engoliu seco e perguntou, finalmente, quem ela era.
" Eu sou aquela a quem seu povo chama de Mãe dos Mais Velhos, o Espírito da Verdade. Mas, como você pode ver, eu não sou tão velha assim. Sou a Grande Mãe, que vive dentro de cada mãe, a Moça que brinca em cada criança, sou a face de Wakan Tanka, de quem seu povo não se lembra mais. Eu estou aqui para ensinar coisas sagradas ao seu povo, coisas das quais eles se esqueceram. Você deve preparar a minha chegada."
O jovem correu como o vento, para transmitir a mensagem da Mulher Búfalo Branco aos chefes das sete fogueiras Sioux. Os chefes, após ouvir o jovem guerreiro, construíram uma tenda grande, onde todas as tribos pudessem se reunir.
Todas as tribos esperavam sentados, enquanto os chefes esperavam pela Mulher Búfalo na entrada da tenda. De súbito, um odor de ervas queimando encheu o ambiente, e eles a viram chegando montada em um búfalo branco. Ficaram atônitos, porque esperavam uma pessoa de mais idade, e não uma menina. Descalça, ela desceu do búfalo e entrou na tenda. Sem dizer uma palavra, ela andou em círculo em volta da fogueira que ardia no centro da tenda. A cada um de seus lentos passos era como um trovão caindo dentro de cada coração, uma prece a Mãe Terra. Ela contornou o fogo sete vezes.
Por fim, ela disse:
“Sete círculos em torno deste fogo, em reverência e silêncio. O fogo simboliza o amor que arde para sempre no coração de Wakan Tanka. É este fogo que aquece cada criatura no mundo. Vocês são como um único ser. Esta tenda é o corpo de vocês. O fogo que arde no centro dela e o amor de vocês.” Curvou-se, e tirou um graveto incandescente da fogueira. “eu estou aqui com o fogo do céu para reavivar a memória de vocês, daquilo que se foi, e prepará-los para os próximos tempos.” Devolveu o graveto ao fogo e pegou sua sacola.
“- Nesta sacola, trago um cachimbo para ajudá-los a recordarem os ensinamentos sagrados. Tratem-no sempre com respeito, pois ele é vivo. Levem-no sempre em sacolas das mais finas peles, enfeitadas pelas mãos mais reverentes. Ponham neste cachimbo as ervas que eu lhes mostrarei. Fumem-no com um sentimento de gratidão ao Grande Espírito, de cujo sopro vocês receberam a vida. Usem o fumo para representar seus pensamentos, suas orações e aspirações ao Grande Espírito.
Ela desatou as tiras de couro que amarravam a boca da sacola, e retirou o Chanupa com tamanha reverência que todos que estavam na tenda, sentiram os olhos cheios de lágrimas.
“Este cachimbo é sagrado, e cada tragada de fumo que vocês inalam pelo seu tubo, ajudará vocês a recordarem que cada sopro de vocês é sagrado. O fornilho do cachimbo é vermelho. Tem o formato circular. Para simbolizar a Roda Sagrada, o sagrado ciclo da vida, o dar e receber, , a dualidade, o macho e a fêmea, da inalação e da exalação pelo qual todas as coisas vivas ingressam na vida pelo poder do Grande Espírito, e dela saem.
A Mulher Búfalo Branco colocou um pouco de tabaco no fornilho do cachimbo dizendo: “ Este tabaco, simboliza o mundo das plantas, o musgo das pedras, as ervas, as folhas da relva que cobre a colina para que sua mãe não repouse nua ao sol. Vocês estão aqui para cuidar da terra. Suas vidas são acesas pelo mesmo fogo que arde no coração do Grande Espírito.” Acendeu um graveto no fogo, ergueu-o  e disse: “Da mesma forma que acendo esse graveto no grande fogo, assim todo ser humano é uma chama que faz parte do fogo eterno do amor do Grande Espírito. Quando vocês viverem em harmonia com o Grande Espírito, sua chama de amor será vivida sempre por aqueles ventos espirituais. Vocês serão tomados de amor pela própria razão da vida! Acenderão o fogo do amor em todos os que encontrarem. Conhecerão o propósito de sua travessia por esse mundo e saberão que o Grande Ser deu uma chama da vida a todos: não para guardarem sua pequenina chama somente para si, amando apenas aquilo que é necessário às suas vidas, mas sim para que pudessem dar o seu amor, e com o fogo desse amor trazer consciência para a terra.” Dizendo isto, ela segurou o graveto incandescente bem em cima do fornilho vermelho do cachimbo. Encostou a chama bem no centro do cachimbo, aspirando suavemente pelo tubo até o tabaco incandescer.
“Assim como o tabaco queima neste cachimbo de terra que representa as plantas, assim também esta criatura que vocês vêem entalhada na fornilha do cachimbo representa as criaturas que compartilham com vocês esse mundo sagrado. As doze penas que pendem o tubo do cachimbo representam os seres alados com os quais vocês compartilham o grande círculo do céu.” Em seguida ela passou o cachimbo ao chefe do conselho dizendo:  “Tomem este cachimbo. Agradeçam ao Grande Espírito, e passem o cachimbo aos outros do nosso círculo. Que seus pensamentos sejam elevados ao Grande Espírito que vem agora mexer com suas memórias, abrindo os olhos de seus narradores. Cada amanhecer que nasce vermelho no céu do leste, como o fornilho vermelho deste cachimbo, é o nascimento de um novo dia, de um dia sagrado. Lembrem-se sempre de tratar cada criatura como um ser sagrado: as pessoas que vivem além das montanhas, os pássaros, os peixes e os outros animais, todos eles são irmãs e irmãos de vocês. Todos constituem partes sagradas do corpo do Grande Espírito. Tudo é Sagrado.”

Neste momento, o cachimbo começa a ser passado de mão em mão. Depois que todos que estavam na cabana deram uma baforada, Mulher Búfalo Branco levantou com reverência o cachimbo para que todos vissem, e disse: “ Levem sempre o Chanupa com vocês. Trate-o como um objeto sagrado. Honrem todas as criaturas e vivam suas vidas em harmonia com o Caminho Sagrado do Equilíbrio de que fala cada árvore, cada flor e cada novo dia. Haverá muitas estações nas quais o coração de vocês se sentirá claro e puro como uma nascente nas montanhas, e vocês conhecerão a paz e a alegria do Grande Espírito. Mas, se vocês sentirem que se afastaram da trilha do Caminho Sagrado, se seus corações passarem a pesar dentro de vocês, não percam tempo em arrependimento. Ensinar-lhes-ei uma cerimônia," disse ela acendendo o cachimbo mais uma vez no fogo sagrado, "uma cerimônia que cada um de vocês pode fazer em companhia de outros, a sós em suas tendas, ou lá fora, na pradaria. Parem suas atividades. Procurem uma pedra sobre a qual sentar. Rogando orientação do Grande Espírito. Acendam o cachimbo e deixem que o fornilho vermelho lhes o caminho da vida, o trilho vermelho do sol. Depois de ter aspirado seu fumo em honra do Grande Espírito, em honra da Mãe Terra, em honra dos animais e das pessoas que são fiéis à realidade, depois de ter dado graças as quatro direções, então aspirem uma vez mais para pedirem orientação aos grandes seres alados do mundo dos espíritos. Peça-os para ajudá-los a ver o melhor procedimento a seguir. Peçam para que eles ajudem a vocês fazerem a escolha mais sábia e a reconhecer os passos que devem tomar na trilha que seu EU mais profundo escolher para vocês. Isso permitirá que o fogo que arde dentro de vocês fale em termos claros, sem interrupções. Peça que os seres espirituais que os cercam, entrem em sua vida. Diga-lhes que desejam ajudá-los e ao Grande Espírito no seu trabalho, e perguntem-lhes como fazer isto. Ao ajudarem o Grande Espírito, vocês se ajudarão. Os seres humanos não são inteiramente felizes nem saudáveis senão quando servem aos propósitos para os quais o Grande Espírito os criou.” Novamente ela entregou o cachimbo, para que fosse passado de mão em mão. Durante muito tempo, Mulher Búfalo Branco permaneceu em silêncio, mesmo após ser completado o círculo de baforada no cachimbo. Quando falou novamente, comparou seus ensinamentos a uma árvore; uma árvore que iria florescer à medida que tomavam a si essas coisas, plantando-as no coração de cada um e aplicando-as no dia a dia.
“Durante longo tempo, vocês viverão sob a sombra sagrada da Árvore da Compreensão que estou plantando nas suas consciências. E, nas gerações vindouras, seu povo estará unido novamente no Sagrado Círculo da Vida. Infelizmente, essa árvore será derrubada depois de algumas gerações. A árvore parecerá morrer. A Roda Sagrada murchará até ser esquecida. Alguns poucos manterão a luz da verdade ardendo nos seus corações, mas a luz será fraca e, mesmo neles, passará a ser uma brasa pequena e imperceptível.” Guardando o cachimbo na sacola, ela continuou: “Mas a brasinha permanecerá. Em silêncio, continuará. Mesmo quando vocês tiverem suas terras invadidas, vendidas e roubadas. Essa brasa ainda manterá sua luz acesa, e saibam meu povo que um grande fogo pode sair de uma única brasa! Quando a tempestade passar, essa brasa acenderá um alvorecer mais forte do que qualquer outra alvorada. Uma nova árvore crescerá, mais gloriosa do que esta que agora deixo com vocês. Com o novo alvorecer, eu voltarei e viverei com vocês. Debaixo da sombra dessa árvore, estarão reunidos não somente as tribos vermelhas, mas as tribos brancas, as tribos negras e as tribos amarelas, vindo de todas as direções. Em harmonia, as quatro raças viverão sob os ramos da nova árvore. Tudo que foi quebrado será refeito por inteiro. A Roda Sagrada será consertada. A comida será farta e os espíritos de todas as criaturas alegrar-se-ão na harmonia de uma nova ordem, perfeita. O Grande Espírito, estará atuando dentro das raças, vivendo, respirando, criando através dos povos da Terra. Após muitas guerras, a paz virá as nações. Grandes mudanças estão a caminho com o nascimento do Búfalo Branco."
Despediu-se dizendo que voltaria um dia, então transformou-se num Búfalo Branco, e sumiu envolta nas nuvens e nunca mais foi vista.
Em 1994, em Janesville, no estado de Wisconsin, nos EUA, nasceu um búfalo branco de dois búfalos negros. “Não se trata de um búfalo albino,”- dizem os cientistas – “é um búfalo branco!” Torna-se mais próximo o cumprimento da profecia sagrada de que irá surgir uma nova idade de unificação e espiritualidade global, enchendo-nos de uma esperança maior para o novo milênio.
Ahow!!

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